Repito a ladainha do terço da
misericórdia enquanto as meninas constroem objetos eletrônicos utilizando
caixas de remédio e tampinhas de garrafa (talvez porque os Correios não
entreguem mais nesta área objetos desta natureza). Imito a reza do terço, mas
nem sempre a fé. Espelhada em Adélia e Cora, quero uma fé que me assalte as
palavras e derrame em versos a força que o curso do meu corpo teima em derramar
na cama. Não deve ser o percurso certo. O Menino Deus me invade a sala não mais
como uma cidade da música de Caetano, ou o paradeiro de Caio Fernando Abreu,
mas como a mão que vai me libertar desta busca insana pela palavra certa. Pela
frase que transborde pelo canto da boca alheia. Enquanto o pulso lateja o
cansaço que pousa no antebraço, eu continuo a saga banhada a café com leite
quente. (João me avisou agora do documentário). As palavras quando me atingem
os dedos pedem que eu trabalhe mesmo com essa dor me perseguindo as carnes. O
tempo não ajuda. Este tempo pede pão com manteiga, cobertas e filmes para
maiores de dezesseis. Adio as leituras adolescentes para o período da noite,
cujas horas terminarei ouvindo música folk, assistindo pregações no Youtube ou lendo as
cartas de Rosaura. Anseio pelo domingo, quando a hóstia santa me espera para me
oferecer a salvação e o conforto que eu busquei a semana toda no ofício
inevitável da escrita. Duro é esperar tanto.