domingo, 29 de março de 2015

ÁGUA DO MAR

Para Luciana Prietos, guerreira e inspiração

Chove no coração dela e nem tive tempo de dizer que no meu também. Estive ocupada com as contas compras exames e outras tantas coisas que me roubam o tempo. O tempo de beber suas palavras ou de enxugar seu suor gelado. Escuto as linhas que ela escreve. Meio como valsa fúnebre (existe isso?). As palavras me descem a garganta queimando tudo. Eu só precisava levá-la para casa e mostrar que eu não fui embora. Que permaneço firme nas intempéries. Rocha dura recebendo aberta o carinho da água do mar. Está salgada, eu sei. Talvez ela queira saber das  vezes em que engoli água também. O gosto não foi nada bom. E a sensação de faltar o ar? De estar solto, sem lugar para pisar... Mas eu mal pude dizer que sua presença me encanta. Que me encanto do mesmo jeito desde o primeiro dia. Assim como no primeiro dia. Será que ainda posso colocá-la no colo?  Ela ainda me cabe nos braços? As palavras os gestos e as asas me fogem e já não consigo trazê-la como antigamente. Trazê-la para perto. Espalhar o xampu no seu cabelo fino e escutá-la reclamar  dos olhos ardidos. Eu tenho muitos compromissos, excesso de papéis louças e varais. Não me sobrou o minuto que falta para olhá-la do jeito mais piegas do mundo: o jeito que ela espera que eu olhe: sem maquiagem, sem luvas ou Photoshop: de verdade. Mostrando- de perto- minha nítida carcaça, a parte mais crua de mim.

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