sexta-feira, 29 de abril de 2016

Transfigurada

Estava caminhando na praia e acordei agora, vinte anos depois. Transfigurada. As roupas não me cabem no corpo nem o amor no peito. Tal e qual Dona Doida de Adélia, com os joelhos de fora e sombrinha em punho. O fato de ser eu personagem me deu o poder de fazer milagres, daqueles do tipo brigadeiro de panela, pipoca com filme ou panqueca sem recheio. O povo me olha estranho, os homens não me desejam mais e desaprendi de fazer versos. A minha fé transborda o copo da salvação e não cabe na igreja. Vivo de catar gotas de orvalho. São o meu ganha pão. (que Deus me dê o pão, o pão da vida) Olho para os meus dedos e não encontro os anéis. Onde foram parar? Tenho filhos que não vi nascer, rugas que não vi crescer e dores que não vi brotar. Todo os dias me jogam n'água mas também desaprendi a nadar. Meus braços encurtaram e as pernas balbuciam. Só a areia que envolve o meu corpo não mudou. Ainda é a mesma de vinte anos atrás. Fina e limpa, do tipo que gruda na pele e não solta com o vento.

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